segunda-feira, 10 de agosto de 2009

PRIMEIROS DETIDOS DA DITADURA MILITAR





Cheguei do Banco onde trabalhava a 24 anos ao cair da tarde, fria, muito fria de julho. Chamei a minha mulher a informei da possibilidade de ser detido nas próximas horas pelas Forças Conjuntas da repressão. O golpe de estado era iminente. A orientei de como atuar depois de isto acontecer para que não a tomasse desprevenida junto das crianças e, se for necessário, a possibilidade de voltar junto da sua família.
Coloquei-me dois pares de medias, duas calças e duas camisetas. Deitei para dormir, vestindo todo isso. Não queria que os militares me pegassem desprevenidos, ou que, a minha demora em abrir a porta ocasionara ações violentas de parte deles. Coisas que não eram difíceis de ocorrer naqueles tempos.
Eram as sete da manha quando bateram na porta. Dei de frente com a policia recebendo a ordem de prisão para ser conduzido e interrogado na cede policial local, porem, num transporte fui levado a 100 quilômetros, Rivera , a capital departamental.
Queriam que como dirigente levanta-se a greve geral determinada pelo meu sindicato para enfrentar o “ golpe de estado”. Lhes informe que eu já não pertencia ao sindicato pois qualquer dirigente que fosse detido automaticamente era substituído por outro
- E quem é esse outro?- perguntaram.
- Não sei ninguém sabe, só ele mesmo sabe quando recebe o envelope que o empossa no cargo.
Oito dias depois fui colocado na porta da Delegacia em “liberdade vigilada”.
Lille/2009

Um comentário:

Anônimo disse...

GRANDE TEXTO SOBRE A DITADURA MILITAR URUGUAYA, SEMPRE É BOM RELEMBRAR NOSSO PASSADO, DA MESMA FORMA QUE HOJE VOCÊ ESTÁ AQUI PARA TER SEU BLOGUE COM REPORTAGENS, FOI UMA SUPRESA MUITO BOA...MUITAS HISTORIAS, FOI PRECISO MANTER SUA LUTA PARA PODER SOBREVIVER. SÓ PODEMOS OLHAR PARA O FUTURO QUANDO REVEMOS O PASSADO SEM MEDO...Railidia Menezes